Desistindo da família

28/11/2012 23:25 Um outro fugitivo trágico é o que desiste da família. Muitos jovens vivem com punição freqüente em casa. Se a maior parte da atenção que obtêm vem na forma de punição, com pouco reforçamento positivo compensatório, é provável que eles deixem a velha casa paterna assim que surja uma oportunidade. Eles podem começar prestando pouca atenção ao que é dito a eles e ainda menos ao que é dito à sua volta em casa; eles não assumem maiores responsabilidades na casa além das que são forçados; eles nem dão nem solicitam afeto. Eles primeiro se desligam da vida familiar e, então, quando se toma possível desistir, eles se vão. A sociedade provê um conjunto de desculpas aceitáveis para deixar a família. Ir para escola longe de casa é uma técnica de fuga aprovada, assim como encontrar um bom emprego muito distante. Gravidez é um modo tradicional para adolescentes conseguirem permissão para se casarem, até mesmo dos pais mais relutantes. Casamento, possibilitado por gravidez precoce, ou por atingir a idade legal, é uma rota de fuga da família socialmente aceita. Em muitos estados, ser mãe solteira permite a uma garota fugir de sua família para os braços da previdência pública, que a sustenta em seu próprio domicílio. Sair de casa para a escola, o trabalho, o casamento ou a previdência pode, naturalmente, produzir reforçadores positivos e nem sempre é o resultado de controle coercitivo. Mesmo quando o é, tal rota de fuga pode tornar possível uma vida melhor para o fugitivo. Entretanto, não podemos deixar de nos entristecer quando vemos jovens terem de fugir para as responsabilidades da vida adulta, freqüentemente muito cedo e despreparados, em vez de serem capazes de aproveitar aquele estágio da vida como uma fonte de novas satisfações. Um dos problemas mais difíceis da paternidade é segurar os filhotes até que eles estejam prontos para voar, nem forçando-os a ir-se cedo demais, nem fazendo-os ficar tempo demais. Como pais, sempre temos que estabelecer limites para nossos filhos e esta necessidade pode facilmente nos jogar na armadilha do controle coercitivo. Mas não precisamos tomar o “Não” um punidor; podemos ensinar nossos filhos a aceitar ambos, “Sim” e “Não”, como um conselho de alguém querido sobre o que funcionará e o que não funcionará, como um auxílio na aprendizagem das regras pelas quais o mundo opera. Algumas vezes, entretanto, eles insistem em descobrir coisas por si mesmos, especialmente quando amigos os convenceram de que os pais não podem em qualquer hipótese compreender suas necessidades. Nada podemos fazer quando isso acontece, a não ser esperar e observar; se já não os tivermos desligado por tentar coagi-los a fazer as coisas à nossa maneira, então, se eles cometerem um erro, não hesitarão em vir a nós para ajuda. O problema se estabelece quando pais desistem da família. Intuitivamente reconhecendo divórcio e separação como fuga, as crianças freqüentemente se culpam pela partida de um dos pais. Mas, mesmo que um dos pais fuja apenas em espírito — por meio de doenças psiquiátricas incapacitadoras, alcoolismo, excesso de trabalho ou excesso de televisão — o modelo de fuga está ali para as crianças imitarem quando elas criarem suas próprias famílias. Fuga da família tem um modo de se perpetuar. Podemos fugir do ambiente coercitivo de nossa família, mas, a menos que tenhamos um outro modelo para seguir, criamos nossa própria cópia. E então, nossos filhos mantêm a tradição coercitiva viva. Fonte: Coerção e suas Implicações, Sidman